“… eis que diante dele parou uma mulher envolvida em um amplo véu de estofo de Mossul, de seda semeada de palhetas de ouro e forrada de brocado. Levantou um pouco o veuzinho do rosto, e de sob ele apareceram dois olhos… com longos cílios e pálpebras!
(…) olhou, então, difarçadamente, para aquela que abrira a porta, e viu que era uma jovem de talhe elegante e gracioso, um verdadeiro modelo no que se referia aos seios arredondados e salientes, à sua bonita atitude, sua elegância, sua beleza, e todas as perfeições de seu corpo e de todo o resto… quanto ao seu jovem ventre elástico e flexível, escondia-se sob seus vestidos como uma carta preciosa no rolo que a encerra.
(…) Ela era uma estrela brilhante entre as estrelas brilhantes e, verdadeiramente, uma nobre mulher da Arábia…
(…) as tocadoras de instrumentos puseram-se a tocar… rodeada por eunucos e aias fez sua entrada na sala… Vinha perfumada a âmbar, a almíscar e a rosa; tinha um belo penteado e sua cabeleira brilhava através da seda que a recobria; seus ombros desenhavam-se admiráveis, sob os trajos suntuosos que a cobriam. Ela estava com efeito, regiamente vestida: entre outras coisas achava-se com uma vestimenta toda bordada de ouro vermelho e sobre o estofo, viam-se desenhadas figuras de animais e pássaros;
mas aquela era apenas a vestimenta externa, porque, quanto às debaixo, só Alá poderia saber seu valor e conhecê-las. Ao pescoço trazia um colar que podia valer nem se saberia quantos milhares de dinares! Cada pedra preciosa que o compunha era tão rara, que homem algum, simples vivente, fosse ele o rei em pessoa, jamais vira pedra igual.
(…) Aproximou-se do estrado, imprimindo ao corpo movimentos muito graciosos, para a direita e para a esquerda (…) fez a volta à sala, seguida de todas as suas damas, sete vezes seguidas, e de cada vez vestida de maneira diferente… E, todo o tempo, …as tocadoras de instrumentos faziam maravilhas, as cantoras cantavam as canções mais perdidamente amorosas, e as dançarinas, acompanhando-se com seus tamborins de guisos, dançavam como pássaros… via uma das jovens, com a mão estendida e bruscamente abaixada, convidá-lo; ou uma outra a agitar seu dedo médio, piscando o olho; ou uma sacudindo as ancas, fazer estalar a mão direita aberta sobre a mão esquerda…
(…) desfizeram-se então de seus véus e pode contemplar… Era a lua, em sua plenitude.”
Fragmentos d’As Mil e Uma Noites